
A verdade é que, debaixo deste sorriso que sempre
desencanto e destes sonhos todos, se esconde
alguém que oscila cada vez mais nos sentimentos
em relação às pessoas. Acho que nesta matéria
chego a ser muito criteriosa, tais são as variações
entre os dois pólos das minhas relações com os
outros.As pessoas, eu sempre acreditei nas pessoas
como seres humanos capazes de proezas
simples...mas a verdade é que são capazes de
proezas maléficas.
Por um lado, consigo sempre de alguma forma
deslumbrar-me com a generosidade e princípios de
algumas pessoas, com a genuína vontade de fazer
bem sem esperar nada em troca. Mas por outro, e
garanto que estes últimos dias não têm sido nada
fáceis, há muito que sinto que a maioria das
pessoas não merece a importância que me vejo
obrigada a dar-lhes: as pessoas que não mexem
uma palha para conseguirem o que lhes faz falta, as
pessoas que cruzam os braços à menor dificuldade,
as pessoas que desistem ao primeiro contratempo,
as pessoas que arranjam subterfúgios e bodes
expiatórios para fugirem às suas responsabilidades,
as pessoas que nos descartam quando se fartam de
nós ou quando já não lhes fazemos falta,
as pessoas que usam outras e abusam da sua
ingenuidade, as pessoas que nos tossem para cima
literalmente e por fim as pessoas que julgam que o
seu pequeno mundo é o único existente e válido.
Eu respiro fundo, juro que respiro, mas não tem sido
fácil nestes últimos dias. Não é fácil impingir rectidão
a quem não tem espinha e é impossível pedir a
alguém que respeite os princípios em que não
acredita. Felizmente, ainda não me conseguiram
acabar com o optimismo e com a ideia de que há
pessoas genuinamente boas, dificilmente
corrompíveis, empenhadas em fazer deste um
mundo melhor. Eu já VI estas pessoas. Falo com
algumas todos os dias e sei que são muito mais do
que apenas ingénuas. Mas estas pessoas são
muitas vezes como as pedras naqueles jardins
orientais: submersas, escondidas pelas águas
paradas mas firmes na sua ligação ao outro lado. Eu
batalho para estar também deste lado das
trincheiras e tentar ser um exemplo de cidadania.
Mesmo que me digam que o mundo é dos espertos.
Eu sei que é muito mais dos sensivéis e
inteligentes,pois o mundo por eles respira.